Recompra de Ações

Muito comuns nos Estados Unidos, os programas de recompra de ações estão se tornando uma forma cada vez mais frequente de remunerar acionistas também no Brasil. Para se ter uma ideia, desde 2010, as empresas do S&P500 (índice das 500 maiores empresas dos EUA) já destinaram mais de US$5,3 trilhões exclusivamente para recompras de ações. Mas o que são estes programas?

Fundamentalmente, uma recompra ocorre quando uma empresa decide adquirir suas próprias ações no mercado, isto é, a empresa usa o seu caixa para comprar as ações de seus acionistas. Isso faz com que o número de ações em circulação diminua, e a participação de cada ação na empresa aumente, retornando valor ao acionista.

Como um exemplo hipotético, imagine que uma empresa possui 1000 ações em circulação no mercado, e você possui 100 destas ações, ou seja, sua participação é de 10%. Suponha que essa empresa decida comprar 400 de suas próprias ações no mercado. Ao final, restarão apenas 600 ações em circulação, e agora as suas 100 ações representam 16,7% da empresa, sem que você tenha desembolsado nada por isso.

Para se ter uma ideia da magnitude das recompras, no Brasil, atualmente, cerca de 45 empresas da B3 têm programas de recompra em andamento, incluindo grandes empresas como a Vale (VALE3) e a Telefônica Brasil (VIVT3), bem como a tabela abaixo mostra o ranking das 20 maiores recompras de ações no primeiro trimestre de 2022 nos EUA:

Maiores programas de recompras de ações entre as empresas do S&P500

Fonte: Elaboração própria. Dados em milhões de dólares.

Por que programas de recompra são vantajosos aos acionistas?

Existem alguns motivos pelos quais o conselho de administração de uma empresa decide fazer uma recompra. O mais comum é, de longe, maximizar o retorno aos acionistas. Uma recompra permite com que o valor de cada ação aumente. Por consequência disso, o preço da ação tende a se valorizar na bolsa de valores na mesma proporção, com os acionistas ganhando na valorização de suas ações. 

Para ilustrar vamos usar a mesma empresa do exemplo anterior. Assim, imagine que esta empresa brasileira anuncie o início de um novo programa para recomprar 10% de suas ações na bolsa de valores. 

Vamos supor que, no ano anterior, essa empresa tenha reportado um lucro líquido de R$1.000,00, e, como comentado, possui 1.000 ações em circulação. Isso resultaria em um lucro por ação (LPA) de R$1. 

Olhando as ações dessa empresa na bolsa, verificamos que são negociadas a R$20, o que resulta em um índice preço/lucro (P/L) de 20.

Nessas circunstâncias, após a recompra de 10% (100 ações), teríamos um aumento do lucro por ação para R$ 1.11 (R$ 1.000 divididos por 900 ações), e para manter o mesmo P/L de 20, as ações deveriam ser negociadas a um valor 11% maior, ou a R$ 22.22. Logo, o acionista, em teoria, perceberá um ganho de capital na ordem de 11% com as ações da empresa após a recompra.

Essa situação é particularmente comum nos Estados Unidos, uma vez que dividendos são tributados em 20%, e recompras não possuem a mesma oneração (custo tributário), sendo mais vantajoso retornar valor ao acionista por este método. Importante mencionar também que os dividendos futuros serão maiores, pois, como já foi citado, a participação do acionista em relação ao total da empresa aumenta, e, por consequência, sua fatia dos rendimentos também.

Posto isso, outro motivo pelo qual as recompras são vantajosas, é  um desconto exagerado no preço das ações. O conselho de administração de uma empresa pode entender que suas ações estão sendo negociadas a um preço muito abaixo do justo, e, em razão disso, faria sentido adquiri-las neste momento. Vale mencionar que este movimento representa que os dirigentes acreditam nas ações de sua empresa, sendo um sinal positivo para o mercado de que o preço negociado pode não estar adequado.

Uma terceira razão é mitigar a diluição dos acionistas causada pela concessão de bônus em ações. Explicando: muitas empresas, com o intuito de alinhar os interesses dos executivos e dos acionistas, estipulam uma remuneração variável baseada em stock options, isto é, a opção do executivo adquirir a ação da empresa a um preço com desconto. Contudo, caso a empresa emita novas ações para honrar essa remuneração, os acionistas anteriores serão diluídos em certa proporção (como ocorre em bonificações ou em follow ons). Para eliminar essa externalidade, uma empresa pode utilizar de ações recompradas, ou realizar uma recompra, e conceder as opções com base nestas ações em tesouraria. Assim, quando emitida a opção de compra, não haverá nenhuma diluição dos acionistas anteriores.

Críticas às recompras

Mesmo com os benefícios, existem aqueles que criticam o mecanismo das recompras de ações. Larry Fink, CEO da BlackRock (maior gestora de ativos do mundo), por exemplo, já se manifestou publicamente a respeito de sua discordância em relação às recompras. Para o executivo, grandes corporações têm priorizado distribuir retornos imediatos a seus acionistas via recompras, em prejuízo de inovação, mão de obra especializada e investimentos necessários para sustentar o crescimento de longo prazo das empresas que administram.

Benjamin Graham, um dos maiores investidores de todos os tempos, também discorda das recompras em seu livro: “O Investidor Inteligente”. Na opinião dele, as recompras são eticamente questionáveis, pois não tratam todos os acionistas de forma igualitária. Segundo Graham, as companhias estão recomprando as ações dos próprios acionistas, sendo que os executivos acreditam que estas ações estariam subvalorizadas. Isso, na opinião do investidor, é um tratamento desigual, vez que o benefício das recompras estaria sendo obtido por meio do prejuízo dos antigos acionistas que estão vendendo suas ações abaixo do valor justo.

Posto isso, as recompras são mais um fator que o investidor precisa avaliar quando for realizar um investimento. Como observado, estas possuem seus benefícios e críticas, cabendo a cada um decidir no perfil de companhia que deseja investir.

Como saber se uma empresa tem um programa de recompra em andamento?

Como último tópico, trataremos sobre onde encontrar informações a respeito de recompras. No Brasil, todas as empresas listadas emitem um fato relevante aos seus acionistas, informando a respeito do início de um novo programa de recompra. Para ilustrar, apresentamos aqui um trecho do fato relevante do programa da EDP Brasil (ENBR3):

O fato relevante indicará em seu conteúdo todas as informações necessárias ao investidor a respeito do programa de recompra, sendo estas: objetivo, prazo máximo, número de ações a serem recompradas, recursos a serem utilizados, dentre outras informações.

Para encontrar os fatos relevantes, o investidor pode procurar os sites de relações com investidores da empresa. Nestes, é possível ver todo o tipo de documento das companhias listadas, atuais e passados, bem como, caso seja de interesse do investidor, há a possibilidade de realizar um cadastro, na qual a empresa enviará estas informações diretamente para um e-mail indicado.

Por fim, esperamos que este texto tenha esclarecido o conceito das recompras de ações, uma alternativa cada vez mais utilizada por empresas no Brasil e no mundo para retornar valor a seus acionistas.

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