Lei da Oferta e Demanda

Introdução: Preço

Imagine que você entra numa loja de doces, e resolve comprar um chocolate. Você vê que o preço dele é de R$3,00. Mas por quê R$3,00? Como foi feita a decisão de cobrar esse preço pelo produto, e não R$3,10, por exemplo? 

O preço de qualquer produto depende de diversos fatores, como custo de produção, custo de mão de obra e margem de lucro definida pelo vendedor, mas, no final, o mais importante é que deve haver um acordo entre vendedor e comprador sobre qual é o preço justo desse produto.

A Lei da Oferta e Demanda, através do estudo dos interesses do consumidor e do vendedor, nos ajuda a descobrir como chegar a um preço. Mas antes de falarmos diretamente dessa lei, precisamos entender o que é demanda e o que é oferta.

Lei da Demanda

A demanda é sempre vista a partir do olhar do consumidor. Pense no nosso exemplo do chocolate: digamos que, se o chocolate custasse R$1,00, você estaria disposto a comprar 10 deles. Mas, com o preço aumentando para R$3,00, você decide comprar só 4, pois comprar 10 deles seria muito caro. E, se aumentasse ainda para R$5,00, você resolveria comprar só 2. 

A demanda é, então, a quantidade de produtos que o consumidor está disposto a comprar por um determinado preço. Note que, quanto maior o preço daquele produto, menor é a quantidade possível/desejada de ser comprada. Por isso, é dito que existe uma relação inversa entre preço e quantidade na demanda.

O gráfico a seguir mostra a situação do nosso exemplo:

Lei da Oferta

A oferta é sempre vista a partir do olhar do vendedor. Se você é o dono da loja de doces, prefere vender a mesma quantidade de qual tipo de chocolate: o que custa R$1,00, R$3,00 ou R$5,00? Como o objetivo do vendedor é obter o maior lucro possível, caso não exista outros fatores relevantes, a preferência é vender o máximo possível do produto mais caro.

Assim, o dono resolve que, se o chocolate custasse apenas R$1,00, ele só iria querer vender 2 unidades por pessoa. Já se custasse R$3,00, venderia 4 unidades, e por R$5,00, venderia 8.

A oferta é, então, a quantidade de produtos que o vendedor está disposto a vender por um determinado preço. Note que, quanto maior o preço do produto, maior é a quantidade (e assim, maior a sua oferta também). Por isso, dizemos que a oferta é uma relação direta entre preço e quantidade.

O gráfico a seguir mostra a oferta do chocolate do nosso exemplo:

Ponto de Equilíbrio

Vendo as duas leis, é possível perceber que a oferta e a demanda são, de certa forma, opostas. O interesse do vendedor está em obter o máximo lucro, enquanto o consumidor quer gastar o mínimo possível. Logo, se o preço estiver acima do considerado justo, o consumidor pode não querer comprar, assim como se estiver abaixo do justo, o vendedor pode não querer vender. 

Portanto, é necessário que o preço e a quantidade daquele produto satisfaçam ambos os lados, e para isso, temos oferta = demanda. Chamamos isso de Ponto de Equilíbrio.

Para encontrá-lo, pegamos os gráficos da oferta e da demanda e juntamos eles em um só:

Note que há um ponto de interseção entre os dois gráficos. Esse ponto é justamente o Ponto de Equilíbrio, onde a oferta e a demanda se encontram.

Quando o preço do produto e o Ponto de Equilíbrio não coincidem, temos uma distorção no mercado. Consequentemente, teremos pelo menos um de 3 efeitos: mudança na oferta, mudança na demanda ou correção no preço do produto. 

Mudança de oferta ou de demanda

E o que acontece com o Ponto de Equilíbrio se a oferta ou a demanda forem aumentadas ou reduzidas? É possível entender de duas formas: intuitivamente, por meio do nosso exemplo, ou manipulando os gráficos apresentados.

Aumento de Oferta – Forma Intuitiva

Considere que, no nosso exemplo, o vendedor recebeu uma nova leva de chocolates antes de conseguir vender todos que tinha. Para ser capaz de vender tudo agora, o que será preciso fazer?

Bom, como a quantidade de produtos vendidos pelo mesmo preço aumentou, temos então um aumento na oferta. Se ele não mudar o preço, provavelmente não será capaz de vender tudo. E, se aumentar o preço, menos pessoas irão querer comprar. Logo, a única solução lógica seria abaixar o preço do chocolate, assim ficando mais atrativo para os clientes, levando eles a comprarem mais, dessa forma podendo vender todo o estoque. Note que, quando a oferta é maior que a demanda, os preços diminuem.

Aumento de Demanda – Forma Gráfica

Agora, vamos olhar o gráfico, abordando a situação contrária: a oferta se mantém, e a demanda aumenta. Como a demanda aumentou, temos que, para o mesmo preço, a quantidade de produtos requisitada aumenta. Isso significa que o gráfico da demanda deve ser deslocado para a direita, enquanto o da oferta se mantém no mesmo lugar:

Perceba que a interseção dos gráficos da oferta e da demanda mudou. Agora, o Ponto de Equilíbrio está mais alto do que antes, o que representa que seu preço aumentou. Conclusão: quando a demanda é maior que a oferta, os preços aumentam.

Em resumo, temos que:

  • Oferta > Demanda: preços diminuem
  • Oferta < Demanda: preços aumentam

É possível entender cada caso com a outra análise. Teste com o gráfico o que acontece se aumentarmos a oferta e mantermos a demanda. Teste também, no exemplo do chocolate, o que aconteceria se a demanda fosse maior, talvez por consequência de mais clientes frequentarem a loja de doces, apesar de não haver mais chocolates à venda.

Apesar de usarmos uma loja para exemplificar a oferta e a demanda, essa lei não impacta apenas produtos físicos. É possível perceber os seus efeitos em vários casos, e iremos falar de 3 temas bem presentes no nosso dia a dia: inflação, congelamento de preços e bolsa de valores.

Inflação

A inflação é a diminuição do poder de compra de uma moeda, levando ao aumento nos preços de bens e serviços. Existem várias causas para a inflação, sendo que nesse texto iremos explicar uma delas, que é a queda da produção de um determinado produto.

Imagine que, durante um período difícil para a agricultura, como uma seca, por exemplo, a quantidade de frutas produzidas cai, e assim, a oferta dessas frutas no mercado também cai, sendo que a demanda por esse produto permanece a mesma. Como temos uma queda na oferta, sem alterações na demanda, a tendência é de que o preço das frutas aumente.

Congelamento de Preços

Quando um país está sofrendo uma crise econômica, principalmente com hiperinflação, uma medida que é considerada é o congelamento de preços, onde o governo fixa temporariamente os preços de alguns produtos, permitindo que as pessoas não percam o acesso a eles, mesmo em momentos de escassez. À primeira vista, essa parece uma medida eficiente, que favoreceria as camadas mais populares em períodos difíceis. Na prática, entretanto, acaba apenas trazendo mais problemas. Os efeitos do congelamento podem ser entendidos através da Lei da Oferta e da Demanda.

No começo da pandemia do COVID-19, principalmente quando o Brasil chegou no pico do número de casos, uma medida que várias pessoas consideravam justa era que o preço de produtos essenciais para o combate ao vírus, como o álcool gel, fosse fixado, pois seus preços estavam aumentando justamente no momento que a população mais precisava deles.

Primeiramente, agora nós já entendemos o motivo dos preços aumentarem: como houve um crescimento repentino na demanda, e a oferta (produção/distribuição de álcool em gel) não conseguiu acompanhar, os preços necessariamente iriam aumentar.

Agora, vamos imaginar que houve o congelamento dos preços. Como o preço está fixado abaixo do seu valor “justo”, não existe nenhum incentivo para a produção de novos materiais, levando vendedores e investidores a procurarem outros negócios mais lucrativos. Perceba que agora a oferta, que já estava baixa em relação à demanda, diminuiu ainda mais. Com o passar do tempo, isso pode levar a praticamente nenhuma nova produção de álcool gel. Assim, uma medida (congelamento de preços) que originalmente tinha o intuito de dar mais acessibilidade, acabou fazendo o exato oposto, tirando o produto das prateleiras, gerando escassez.

E existe a possibilidade de uma situação ainda pior: já que, legalmente, não vale a pena vender o produto pelo seu preço tabelado, pode surgir um mercado secundário por ele, que como atua fora da lei, negociando a preços muito mais abusivos e gerando corrupção.

Então, o que aconteceria se os preços não fossem congelados, variando livremente conforme o mercado?

No início, teríamos o preço do álcool gel subindo, devido a alta demanda repentina. Contudo, por se tratar de um mercado com muita demanda e consequentemente lucros mais atrativos, novos vendedores e investidores entram neste negócio, gerando um aumento na oferta, e consequentemente, normalizando os preços novamente e ainda contribuindo para a produtividade e geração de empregos no ramo.

Além disso, com os preços acima do normal, surge maior interesse em produtos similares, por exemplo o sabonete nesse caso, e essa competitividade também ajuda a normalizar os preços.

Portanto, por mais que inicialmente pareça um grande problema não congelar os preços, essa é a melhor decisão para não prejudicar o acesso da população ao produto e nem a produtividade do setor.

Evidentemente, o álcool gel não é o único produto que seria afetado se seu preço fosse congelado. As consequências do congelamento de preços podem ser vistas em qualquer mercado e produto.

Bolsa de Valores

As ações que são negociadas na Bolsa de Valores são uma pequena parte de uma empresa real, ou seja, uma fração da empresa que ela está relacionada. Uma ação ABEV3, por exemplo, é uma pequena parte da empresa AmBev.

Devido à complexidade de determinar o preço justo da ação de uma empresa, já que isso não depende apenas dos resultados atuais da mesma, mas também da possibilidade de crescimento do setor que a companhia está inserida, sua governança, sua capacidade de inovar, entre muitos outros, apenas a lei da oferta e da demanda não é capaz de prever a volatilidade dos preços no mercado. Assim, neste texto iremos fazer uma simplificação do tema, apenas para entender como as expectativas dos investidores podem afetar o preço de uma ação.

Vamos considerar uma ação fictícia LIGA3, que atualmente estaria cotada a R$30,00.

Imagine que, ao ocorrer a divulgação dos resultados trimestrais da empresa, os investidores percebem que ela teve um lucro muito acima das expectativas. Portanto, muitos agora querem comprar ações desta empresa. Com o aumento da demanda, os preços de LIGA3 consequentemente sobem para R$35,00, por exemplo.

Agora, vamos imaginar o cenário oposto: em vez de ter tido bons resultados, aconteceu um escândalo dentro da empresa que pode custar milhões a ela. Os investidores agora estão receosos de continuar tendo ações dessa empresa, então decidem vendê-las. Dessa forma, a oferta está maior que a demanda, levando à queda do preço das ações, por exemplo, para R$25,00.

Perceba que, se um grande volume de pessoas estiver vendendo as ações, os preços dela podem cair, levando a possíveis perdas de dinheiro a esses investidores, mas podendo ser uma oportunidade para aqueles que comprarem essas ações em queda (caso elas subam novamente, é claro). O inverso também é verdade: um grande volume de compra de ações no mercado pode representar uma oportunidade de venda. Por isso, o entendimento de como ocorre a oferta e a demanda na Bolsa de Valores pode ajudar a obter rentabilidades maiores. 

Em conclusão, a Lei da Oferta e da Demanda é uma das principais leis do mercado financeiro, e seu entendimento pode ser bastante útil em diversas áreas, desde entender toda a dinâmica de preço de produtos e serviços, até a investir melhor.

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