Causa da Crise de 2008

A crise de 2008, conhecida como crise do Subprime, causa até hoje muita discussão sobre sua causa. Nesse texto, serão apresentadas duas versões da história, entre muitas existentes. A versão tradicional e, em seguida, uma perspectiva segundo a teoria austríaca.

Teoria Tradicional – Keynesiana

Antecedentes e causas da Crise (2000-2007)

    A partir dos anos 2000 houve uma grande expansão do crédito, intensificando-se após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Neste período, o governo americano aumentou os gastos públicos, com programas de assistencialismo e despesas de guerras (conflito com Iraque, Afeganistão e Paquistão). 

    O país vivia em elevação constante do consumo, acompanhando a redução da taxa de juros estabelecida no mercado. A inesperada crise, rapidamente causou recessão e desemprego. 

    Um dos setores mais afetados, o mercado imobiliário, foi responsável pelo início da crise.

 Mercado Imobiliário

    Os constantes cortes na taxa estabelecida pelo Federal Reserve Bank (FED), proporcionaram à classe média americana a oportunidade de financiamentos mais acessíveis no mercado de crédito. Como consequência, ocorreu uma grande expansão de crédito no sistema bancário americano. A taxa de juros esteve próxima de 2% entre 2000 e 2004, e teve constante elevação em 2005 até o início da crise, quando o governo retornou a política de redução da taxa de juros visando a recuperação da demanda agregada.

    A valorização dos imóveis tornava-se um facilitador na negociação desses créditos, visto que, caso os indivíduos não pagassem suas obrigações com os bancos, as instituições poderiam hipotecar o bem em garantia, auferindo lucros, considerando a valorização.

    Desse modo, a análise de crédito tornou-se mais branda, permitindo financiamentos até mesmo para aqueles que claramente não tinham condições de pagamento.

    Buscando aumentar os ganhos no mercado imobiliário, as instituições financeiras emitiram títulos de dívidas e dessa forma, antecipavam as receitas, aumentavam o giro e reduziam seu risco de crédito. Os títulos eram definidos em duas categorias: Prime e Subprime, sendo o primeiro, lastreado em créditos concedidos a bons pagadores, e o segundo a pessoas com alto risco de inadimplência. 

    Como todo investimento, quanto maior o risco, maiores são os juros demandados. Portanto, o Subprime oferecia maior rentabilidade, de acordo com o maior grau de risco. A partir disso, começaram a ocorrer problemas na classificação de risco desses títulos.

Classificação de Risco

    Surgiram problemas na classificação de risco, de modo que, títulos Subprime passaram a serem classificados incorretamente como Prime.

    A partir da elevada demanda por investimentos imobiliários americanos, houve grande entrada de capital estrangeiro nos EUA, tanto na bolsa de valores como no mercado imobiliário, que adquiriram esses títulos. Sendo um dos motivos pelo qual a crise obteve proporções mundiais muito rapidamente.

Bolsa de valores

    A inflação atingiu a Bolsa de Valores, criando outra “bolha financeira”, além do mercado imobiliário. Isso porque, com a prosperidade americana e o crescente consumo, a especulação acerca das ações de empresas americanas tornavam-se mais aparentes a partir dos anos 2000. O período foi o mais próspero para a Bolsa de valores americana. 

    As empresas do setor tecnológico aparentavam ser as mais afetadas pela especulação, atingindo preços altíssimos e grandes valorizações acumuladas. A teoria tradicional, destaca a relevância da falta de regulamentações no mercado para as especulações no período.

Regulamentações

    As regulamentações no mercado financeiro foram se tornando mais rígidas após a grande crise americana de 1929. Entretanto,  os períodos de prosperidade (após a segunda guerra mundial), incentivaram os governos a reduzirem o controle estatal sobre a economia.

    Defensores da teoria tradicional, indicam que a crise foi causada pelo livre mercado, sendo que, possivelmente, poderia ser evitada por regulamentações e intervenções do Estado americano. Evitando a grande especulação na bolsa de valores, expansão de crédito para maus pagadores, e supervalorização dos imóveis no país, além da carência de fiscalização sobre a classificação dos títulos imobiliários.

    Apesar de bastante discutida entre os economistas, a falta de regulamentação é apontada como um dos principais causadores da crise de 2008, pelas principais escolas econômicas. Nesse texto, será apresentada, posteriormente, outra visão (Teoria Austríaca) sobre a crise do Subprime, onde indicam causas divergentes dessa.

Inadimplência e hipotecas 

    Próximo ao início da crise, em 2007, apareciam os primeiros efeitos da elevada expansão de crédito imobiliário. Com a taxa de juros no limite, o governo decidiu elevá-la. Assim, impactando a quantidade de novos financiamentos no mercado financeiro. 

    Nesse período, a taxa de inadimplência, a partir da elevação de juros, começou a demonstrar os resultados de liberações para pessoas sem capacidade de pagamento, e desse modo, o crescente número de hipotecas tornou-se notável.

    A quantidade de hipotecas, somadas pela redução na demanda no mercado imobiliário, ocasiona drástica queda nos preços dos imóveis. A queda de preço, prejudica o setor bancário, que ao leiloar imóveis hipotecados, obtém maior prejuízo advindo da menor liquidez.

    O impacto chega a níveis elevadíssimos, levando muitas instituições financeiras à falência, mesmo com o auxílio e esforços do governo americano a fim de reduzir o colapso do sistema bancário. O banco Lehman Brothers (era um dos principais dos EUA) declarou falência, deixando pendurada um conta de US$ 691 bilhões e 25 mil funcionários desempregados.

    A mudança de cenário no mercado, proporcionou falta de liquidez à economia, que anteriormente, vivia anos de prosperidade. Empresas de diversos setores foram impactadas pela redução de crédito, e contração da demanda agregada, que naturalmente, elevou o desemprego americano.

    Inicia-se o ciclo de crise, cai a liquidez no mercado, ocasionando redução de demanda, e por fim aumento de desemprego, agravando novamente a liquidez e limitando a demanda.

    Com isso, a renda das famílias estadunidenses obteve queda de mais de 25%. Além disso, a bolsa, representada pelo índice S&P500, teve queda de mais de 45%. Todo esse cenário fez com que o desemprego alcançasse percentuais recordes chegando a mais de 10% nos EUA. 

Brasil e Resto do Mundo

    Os investidores, no mundo todo, dos títulos lastreados em financiamentos de imóveis americanos foram prejudicados a partir da inadimplência, afetando negativamente a economia mundial. Até mesmo aqueles que não possuíam tanto investimento em títulos americanos foram afetados, pela drástica queda da demanda mundial por bens e serviços, reduzindo as transações comerciais. Naturalmente, houve uma grande redução nos investimentos e crédito global.

    A dívida pública teve grande acréscimo, e para alguns países, como a Grécia, foi necessário auxílio do FMI (Fundo Monetário Internacional) para atender à demanda por liquidez no país. 

    No princípio, o Brasil aparentava não ser afetado pela crise mundial, mas mesmo sem grande quantidade de investimentos no mercado americano, foi bastante prejudicado, interrompendo o crescimento na “Era Lula”.

    Classificado como país emergente, o país teve grande fuga de capital estrangeiro, devido a impressão de maior vulnerabilidade em períodos de crises. Como resultado, a moeda nacional se desvalorizou, além do efeito de redução da demanda agregada, sendo impactado pela redução do comércio internacional. 

Teoria Austríaca

    Fora do mainstream, há a teoria da escola austríaca de economia, tendo como peculiaridade, a indicação da regulamentação estatal como principal causa da crise de 2008, como oposição à teoria tradicional, onde o livre mercado e o capitalismo são culpados pela crise.

    Para Hayek, ganhador do Prêmio Nobel de economia, em sua teoria de ciclos econômicos o economista aponta a importância do livre mercado, sendo os preços e a taxa de juros (preço do dinheiro ao longo do tempo) necessariamente definidos pelo mercado. Segundo ele, as oscilações econômicas são normais, e são recuperadas “naturalmente” pelo livre mercado. 

    Buscando a aceitação política, muitos governantes ignoram as leis do mercado (definidas pelo liberalismo econômico) e alteram preços no mercado, que tem a função de sinais na economia, sendo o indicador natural de escassez, que é responsável pelo equilíbrio entre a oferta e demanda dos bens e serviços.

    Para Hayek, ao alterar a taxa de juros, o governo força investimentos que, segundo ele, não deveriam ocorrer, pois não há poupança e renda suficientes na economia para suportar o aumento da oferta. Sendo assim, o aumento artificial, provocado pelo governo, ocasiona desequilíbrio na oferta e inflação (definida como aumento da base monetária pela escola austríaca). Por fim, a oferta gerada artificialmente pelo governo, não encontra demanda compatível. Desse modo, empresas encontram dificuldades para pagar créditos tomados, no período em que a taxa de juros se manteve baixa, ocasionando falência, aumento de desemprego, e estímulos para uma crise econômica. Resumidamente, esse é o comportamento da economia sob regulação, apresentado por Hayek. 

    Austríacos atuais defendem que esse fenômeno descrito, ou seja, a tentativa do governo de evitar as oscilações econômicas, gerando grandes recessões, é o principal motivo para a crise iniciada em 2007, assim como em outras crises.

Conclusão

    Considerada uma das maiores crises da história da economia global, foi responsável por mudanças nas formas de condução de política monetária dos países, sendo, fundamental para discussão sobre ciclos e recessão das economias capitalistas, consideradas naturais. Além da ênfase do papel dos governos, e bancos centrais, para manter a estabilidade econômica. 

    Após ler esse resumo sobre a crise de 2008, aposto que você ficou querendo saber mais sobre o assunto. Como sugestão, no site da Liga de Investimentos você também pode conferir nosso review sobre o filme “A Grande Aposta”. O Livro trata com detalhes os acontecimentos de 2008, expondo uma visão sobre a crise, a partir de um interessante enredo!

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