Family Office: o que é e como funciona

Introdução

Family office, traduzido literalmente como “escritório da família”, é uma estrutura montada para famílias com um grande patrimônio que necessitam de assistência completa, incluindo os setores jurídico, contábil, fiscal e de investimentos. A assessoria, então, abarca a gestão de grandes volumes de recursos, uma vez que é utilizada somente por famílias milionárias ou bilionárias.

Trata-se de uma assessoria muito tradicional nos Estados Unidos. Estima-se que seu surgimento seja datado do final do século XIX, e tenha se dado devido a algumas famílias adaptarem o modelo de administração de recursos utilizados pelos grandes bancos com o intuito de gerir suas próprias fortunas.

Aponta-se que, possivelmente, os pioneiros na utilização de tal estrutura foram os primeiros grandes empresários americanos, como a família Rockefeller, Carnegie, Ford, Vanderbilt e Roosevelt.  No Brasil, no entanto, o movimento começou apenas na década de 90.

Pode ser que você se pergunte o que diferencia o family office do wealth management e do private banking. Vamos lá:

Apesar de os três estarem voltados a clientes de grandes patrimônios, o principal diferencial de um family office é justamente o foco nas necessidades de gestão financeira, empresarial e até humana das famílias. Visa, portanto, preservar, multiplicar e transmitir devidamente o patrimônio da família ao longo das gerações, preservando a união familiar como uma base sólida.

O private banking consiste em um serviço prestado por bancos (Bradesco, Santander, Itaú, BTG Pactual) que oferecem produtos e serviços diferenciados para os considerados clientes vips – em outras palavras, aqueles que possuem uma alta renda ou patrimônio. Esses clientes têm acesso a investimentos exclusivos, com taxas de administração inferiores, e possibilidade de maiores rentabilidades, por exemplo.

O wealth management, por sua vez, é voltado exclusivamente para a terceirização da gestão de grandes patrimônios, com foco no asset allocation, ou seja, na escolha de ativos (ações, fundos e outros) que proporcionem o melhor equilíbrio entre risco e retorno, a depender das expectativas do cliente. Não costuma ser planejado para atender necessidades familiares, como a sucessão empresarial – mas sim a estruturação de uma carteira de investimentos voltada para o planejamento de uma aposentadoria antecipada, por exemplo, ou mesmo somente a gestão do patrimônio para garantir uma vida confortável para as gerações futuras da família.

Como funciona um family office? 

Na prática, os especialistas são responsáveis pela avaliação de riscos financeiros, dados de mercado, incorporação imobiliária, viabilidade de investimentos e participação societária. Podem, ainda, auxiliar no desenvolvimento de planos fiscais e de sucessão empresarial, na gestão financeira, bem como em empreendimentos filantrópicos e na união familiar, caso seja de interesse da família.

Dessa forma, podemos dizer que se trata de uma consultoria completa, que observa todo o contexto da gestão, desde a alocação de recursos, até as operações e governança familiar. Sua função, assim, consiste em apoiar a família no longo prazo, mantendo a disciplina do sistema de governança, a união familiar, bem como auxiliando com a parte financeira e empresarial.

A fim de melhor explanar o portfólio de um family office, temos, logo abaixo, uma imagem exemplificativa, seguida da explicação dos principais serviços prestados por essa assessoria.

Fonte: A Autora.

1) Gestão de investimentos: definição de estratégias alinhadas aos objetivos de acúmulo e preservação de patrimônio, levando em conta o retorno total das aplicações, bem como incluindo aportes em carteiras de investimento. Isso inclui, por exemplo, a escolha e o monitoramento de ações, títulos de renda fixa e imóveis.

2) Análise patrimonial: parte-se da visão do patrimônio como um todo, visando obter o melhor retorno em cada área, definindo o que deverá ser mantido, vendido ou dispensado.

3) Planejamento tributário: estudos para a redução da carga tributária, a exemplo: a constituição de holdings ou a implantação de fundo exclusivo. Esta área, ainda, requer mediação de contadores e advogados.

4) Planejamento sucessório: melhores estratégias para doações em vida, distribuição de herança, bem como a definição dos bens mais adequados aos interesses de cada um dos herdeiros, com o fim de evitar conflitos.

5) Educação financeira de membros da família: trata-se de um serviço mais voltado aos herdeiros, que são ensinados, desde jovens, a como lidar com seu patrimônio e investimentos.

6) Dimensionamento do padrão de vida familiar: levantamento de receitas e despesas que, alinhado a estratégias de limites de gastos, visa a manutenção do patrimônio da família.

Importante dizer que não se trata de um rol taxativo, ou seja, podem ser prestados outros serviços além dos explicitados acima, a depender da necessidade e desejo da família.

Público-alvo do family office

É importante expor que o processo de criação de um family office pode ser complexo e demorado, pois envolve um amplo trabalho jurídico, regulatório e de conformidade, uma vez que sua estrutura é a de uma “Entidade Financeira” autorizada e supervisionada pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e regulada pela ANBIMA.

Atualmente, no Brasil, existem pouco mais de 80 family offices. As famílias que buscam esse tipo de assessoria costumam ter um patrimônio acima de R$ 100 milhões, tendo em vista que se trata de uma estrutura com custos extremamente altos para ser constituída.

Segundo o Family Office Report Brazil 2020, produzido pela INEO, 56% das famílias que constituíram um family office possuem mais de 500 milhões de reais em ativos.

Para se ter uma ideia, somente os gastos com a remuneração anual dos principais cargos dentro dessa estrutura podem ultrapassar três milhões de reais.

Tipos de family office

O family office pode se apresentar de duas formas: o single-family office e o multi-family office.

O single-family office também pode ser chamado de family office próprio. Como o nome já diz, trata-se de uma empresa criada pela própria família a fim de administrar seu patrimônio e investimentos.

Nesse caso, a família tem total controle sobre a assessoria e os serviços prestados, ou seja, recebe exatamente o que deseja, e tem total atenção. Tendo isso em vista, podemos concluir que se trata de uma assessoria com custo bem mais elevado.

A multi-family office, por sua vez, é conhecida como family office tercerizado. Dessa forma, uma empresa já existente oferece seus serviços para diversas famílias, e não para uma em específico. Por conta de não ser um serviço exclusivo, nem tão personalizado, os custos são menores quando comparados aos do single-family office.

A importância do Family Office

No que diz respeito à importância para as famílias de patrimônio elevado, podemos dizer que estas, muitas vezes, não são capazes de, sozinhas, cuidarem de tudo. Dessa forma, a necessidade do apoio de uma equipe multidisciplinar se torna evidente.

Ainda, no que diz respeito ao mercado de capitais, os family offices vêm se mostrando relevantes para o seu amadurecimento. Segundo o Family Office Report Brazil 2020, produzido pela INEO, 55,6% das famílias que possuem um family office investem em private equity e 38,9%, em venture capital, com patrimônio alocado a estes investimentos em uma média de 3,9% e 1,6%, respectivamente. Venture capital é um tipo de investimento voltado para pequenas e médias empresas ainda novas no mercado ou em fase pré-operacional, mas que trazem um grande potencial de crescimento e retorno para os investidores. No private equity, por sua vez, o investimento é feito em empresas mais consolidadas, com fluxo de caixa estável e uma boa margem de lucro, mas que ainda não estão preparadas para a abertura de capital.

Conclusão

Cada família se organiza e monta suas estratégias de maneira muito particular, tendo cada uma o seu propósito, tanto familiar quanto social e patrimonial. 

Os family offices, então, se enquadram neste contexto de ajudar as famílias nas tomadas de decisões diárias, bem como na melhoria da gestão da fortuna familiar, envolvendo questões de gestão profissional dos ativos da família, planejamento sucessório, eficiência tributária, entre outras questões.Dessa forma, famílias com estruturas patrimoniais complexas, que demandam uma gestão mais profissional em suas atividades administrativas e financeiras, podem se beneficiar muito ao constituir um family office.

Artigos Relacionados

Liga de Investimentos UFPR

Blog

Seleção Semanal
Último Post

Isto é o título

Categorias
plugins premium WordPress